Pedro Jahara, da Lexter, conta como foi sua passagem pelo disputado programa de aceleração da Y Combinator

Grão Venture Capital, 22 de June de 2022
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O programa de aceleração do Y Combinator, aceleradora americana conhecida pelo tino apurado para identificar boas ideias que podem se tornar boas empresas, é um dos mais disputados do mundo. A 34º edição, que aconteceu entre janeiro e março desse ano, recebeu 17 mil inscrições e selecionou apenas 414 startups para o batch. Entre elas estava a brasileira Lexter, fundada por Pedro Jahara e Guilherme Delai em 2020.

A Lexter usa inteligência artificial para fazer análise automática de documentos jurídicos, funcionando como uma espécie de “advogado robô”, capaz de ler e sugerir alterações em contratos, entre outros features. Assim, a solução da startup ajuda setores jurídicos de empresas e escritórios a lidar com a montanha de burocracia geralmente associada às demandas jurídicas.

A convite da Grão VC, Jahara participou do Grão Talks de maio para compartilhar como foi sua experiência com o YC, desde a aplicação até os bastidores do programa, e quais foram os maiores aprendizados para a Lexter, muito além do cheque de US$ 500 mil que a startup trouxe para casa e dos investidores atraídos durante o batch.

Valor de comunidade

Jahara contou que começou a entender o valor de ser um founder YC antes de se tornar um, ainda na etapa de entrevistas, quando recebeu uma ajuda inesperada de founders que participaram de edições anteriores e se prontificaram a fazer mock interviews (são entrevistas simuladas para fins de treinamento, é um exercício valioso para fornecer experiência a um candidato antes da entrevista oficial) para ajudá-lo a se preparar para a etapa final da seleção da aceleradora americana. 

“Esses empresários cederam um tempo precioso do fim de semana deles para ajudar um founder que eles não conheciam. Entendi melhor o sentimento de “give back” e de comunidade de que falam quando se referem sobre a YC. E até o fim do programa, pude comprovar outras vezes que esse é o maior valor do programa: você passa a ser um fundador YC, a fazer parte de uma comunidade que está realmente disposta a se ajudar.” 

Hands on 

Jahara também detalhou como foram os três meses de programa que culminam no demo day, o evento de fundraising oficial do YC em que as startups aceleradas se apresentam para centenas de investidores do mundo todo. Embora o demo day seja um momento importante, é na programação que antecede a rodada de pitches que estão os maiores aprendizados

“São três meses de um intercâmbio intenso de experiências, de troca sobre acertos e dúvidas com outras startups, com founders de primeira viagem e CEOs experientes. 

Toda semana tem uma sessão com um founder de startup unicórnio investida do YC, como Airbnb e Brex, para citar algumas, em que ele compartilha a experiência dele. Também tem um conteúdo semanal voltado para temas centrais da jornada de qualquer startup, como product market fit, hiring, gestão de conflitos e estresse e psicologia para founders. 

Agora, se você me perguntar qual é a parte mais interessante dessa imersão? São os dois fóruns menores que acontecem toda semana também. Um reúne um grupo de sete empresas de modelo semelhante – no caso da Lexter, ficamos em um grupo B2B SaaS – e quatro sócios do YC. Esse grupo é fixo e é totalmente hands on, é onde a gente compartilha dores, define metas e estratégias. Os sócios do YC estão ali para ajudar desde a responder um email de um investidor até a desenhar o processo de fundraising e de investimentos para a startup ficar default alive.

O segundo é um one-a-one com um sócio YC. Esse momento é a cereja do bolo, é um tempo valioso que você exclusivamente para você. Eu fiz esses 1:1 com o Michael Seibel, founder da Twitch. Nós desenvolvemos um bom relacionamento com ele e extraímos muita coisa das conversas, principalmente em relação ao desenvolvimento do nosso produto. Ele também nos ajudou a definir o valuation, a diluição, a estratégia de fundraising, o storyline; depois, revisou o pitch deck. É hands on para valer.”

Lições 

“O YC reforça muito o conceito de default alive, que é, em síntese, quando a empresa tem condições de atingir lucro com seus recursos atuais antes de ficar sem dinheiro e precisar levantar mais capital. Eles inclusive voltaram a falar do conceito recentemente, diante da desaceleração dos investimentos.

Parece óbvio, não queimar caixa loucamente, mas acontece. A dica é: começar enxuto, consolidar, escalar depois. Nesse sentido, o YC também gera muitos insights sobre over hiring, uma das maiores armadilhas para startups, e escalação do produto. 

Em uma das palestras, o YC reuniu estatísticas sobre empresas que passaram pelo programa há dez anos: 70% delas “morreram”. Mas, quando se olha para as startups que sobreviveram pelo menos dois anos após o YC, 70% ainda estão vivas hoje. Então, acredito que construir uma startup seja mais sobre não morrer do que sobre um conceito subjetivo do que é “dar certo”. 

Também pode ser que você escute coisas que você não vai gostar de ouvir, mas para mim isso é um valor, porque eu estava aprendendo com pessoas que sabiam mais do eu naquele momento.

No caso da Lexter, nós conversamos muito sobre nosso modelo de negócio, nossos canais e nossa audiência. Percebemos que tínhamos muitas frentes abertas. Nós já tínhamos um produto e clientes pagantes, mas precisávamos de foco.

Talvez uma das grandes lições que aprendemos foi essa, ter foco. Definir o que a empresa faz. Parece simples, mas não é. Os sócios nos diziam que nossas mães têm que entender o que a gente faz. Ter clareza sobre o que a startup faz e para quem faz é inclusive crucial para consolidar o modelo de negócio e o pricing.”

Fundraising

“O demo day é o momento oficial de pitch e contato com investidores, mas o processo de fundraising começa antes, durante o batch. Começamos a ser abordados por vários investidores e precisamos definir qual seria nossa estratégia de fundraising.

A recomendação do YC é adiar os encontros com investidores, marcar essas reuniões perto do demo day. Foi o que nós fizemos. Levantar investimento no road do YC é um pouco diferente, porque apesar de ser safe, você já define o valuation. Então você define seu valuation e vai coletando safes, vai construindo o seu round. 

Mas não é uma estratégia única. Tem startups que optam por definir o valuation logo no início do programa e já começam a aceitar investimento. O ponto positivo dessa escolha é que quanto mais perto do demo day, mais disputada é a agenda dos fundos e talvez os investidores fechem os investimentos que tinham se proposto a fazer antes do demo day, ainda durante o batch. 

No nosso caso, foi melhor ter seguido a recomendação do YC porque a Lexter mudou ao longo dos três meses de programa e nosso gráfico de receita ficou muito melhor e conseguimos mostrar crescimento acelerado. Em janeiro, eu não tinha esses números ainda.”

YC é para todo mundo?

“É complexo falar em momento certo para fazer YC. Nós já éramos operacionais, já tínhamos clientes e usuários, o que é valioso porque tínhamos onde testar tudo o que era discutido no programa, e depois voltávamos com os resultados para discutir mais. Mas na minha turma tinha founder de todo tipo, inclusive um que tinha apenas a ideia, e ele gostou bastante da experiência.

O maior valor do programa é mesmo a comunidade da qual você passa a fazer parte, então indefere qual é o momento da sua startup. Você extrai muita coisa legal não importa qual seja o estágio do seu negócio, ainda mais se você deseja ser um empreendedor serial, porque o conhecimento que você adquire e as conexões que você faz durante o programa são perenes.

Inclusive, no pós-programa, nós mantemos um encontro mensal com os CEOs do nosso grupo e é super bacana porque ser founder é um tanto solitário e esses encontros são um momento para desabafar, aconselhar e ser aconselhado. As portas também permanecem abertas junto aos sócios do YC.”